quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Ressalvas - A esquerda brasileira e o combate à corrupção


Certos setores da esquerda estão dando pouca importância à conivência que o governo Lula vem tendo com a corrupção no Congresso Nacional. Sem cair em um legalismo pueril, ressalvas são fundamentais caso a esquerda consiga, um dia, realizar um projeto sólido, democrático e popular para o Estado brasileiro. Seguem alguns apontamentos sobre o caso da absolvisão de Renan, mas que também servem para outros casos:


[1]Tomem cuidado quando falarem que a corrupção é estrutural ao capitalismo e que temos coisas mais importantes para nos preocupar agora do que a absolvição de Renan. As duas afirmações não deixam de ser verdadeiras, mas apenas em parte...


[2]A corrupção de modo algum é exclusiva ao capitalismo, ela se origina na privitivatização de interesses que deveriam priorizar o coletivo, no caso, os valores abstratos do Estado e sua concepção de "honra burocrática". No Brasil a racionalidade e a impessoalidade estatais são historicamente dificultadas pelo familismo, o personalismo e o patrimonialismo, bem mais do que em países do Norte, são essas - associadas ou não ao Capital - as grandes fontes de corrupção entre nós.


[3]Temos coisas muito mais importantes a fazer, mas isso não quer dizer que combater à corrupção não seja também muito importante. Mesmo que simbolicamente - considerando-se que outro corrupto entrasse no lugar de Renan - a exclusão do chefe da assembléia dos senadores seria muito valiosa, e isso Freud e Gramsci explicam.


Ou alguém acha que a democracia não saiu derrotada?


[4]Derrotar politicamente a elite brasileira e seus vícios também passará por superar a transigência com que se trata a corrupçao no país. Se não se faz isso de um ano para o outro, é bom que se comece o quanto antes...
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[5]Últimas questões:
A quem serve a corrupção do Estado brasileiro?Como essa corrupção pode existir com tamanha transigência do povo? Nossa corrupção à brasileira - descarada e escrachada - pode ser encarada como estando diretamente ligada à luta de classes (ou melhor, à ecassez de ação coletiva classista) em nosso país.
[6]Portanto, o combate à corrupção deve ser um dos pontos fundamentais no programa dos partidos e frentes de esquerda brasileiros, pois é pré-condição para que uma agenda política socialista e democrática possa ser minimamente efetivada no congresso. Esta reivindicação, que pauta-se em um conhecimento realista sobre os vícios de funcionamento do Estado brasileiro, não pode mais ser confudida pela militância distraída com um cansado "moralismo udenista", anacrônico e oportunista, que até hoje ronda insistente pelo Brasil.

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