domingo, 23 de setembro de 2007

Sobre o sentido dos sacrifícios


Ando pensando sobre o sofrimento. O sofrimento cotidiano. Quantos sacrifícios são feitos para cumprirmos nossos compromissos com os outros: o trabalho, a faculdade, as pesquisas da faculdade, a família, os amigos, a (falta de) namorada. Podem indagar se todos esses compromissos também não nos satisfazem individualmente, responderei sem pestajar que sim, mas em parte. Hoje em dia trabalhamos tanto que o tempo para a diversão fica extremamente curto. Sem o tempo do lazer o tempo do trabalho fica sem prazer. Cansados e sem tempo acabamos burocratizando nossas relações pessoais. É um ciclo vicioso e irritante que tira nossa energia vital e sufoca nossas individualidades.


Talvez eu esteja estudando demais.

Ou talvez isso não seja um problema só meu.


O tempo que eu gasto fazendo resumos e relatórios burocráticos e desnecessários poderiam ser gastos com Neruda, Bandeira, Caetano, pegando jacaré na praia e dividindo uma porção de pescada com os amigos. A supermodernidade é avessa a amizades. O assalariado é um ser alienado das coisas mais doces da vida.


Trabalhar, estudar, trabalhar e estudar mais pra não ficar desqualificado no mercado de trabalho. Depois serei um sábio professor estressado, provavelmente calvo, explorado pelos barões da indústria da educação superior. Esqueçam o conhecimento, um diploma agora é um signo da exploração. O saber é um saber direcionado para o mercado. Quantos alunos terão tempo e/ou vontade para ler Marx pensando em contruir uma sociedade mais justa? E Weber para uma modernidade menos burocrática? Os alunos terão amor sufiente ao conhecimento para ter a paciência necessária à leitura de Durkheim? A zilmodernidade também não gosta de profundidades. A sociologia das univeresquinas, univershoppings e universupermercadões estará ao nível da superfície mercadológica. Simples disciplina para preenchimento de currículo obrigatório, uma sociologia para boi dormir.

Mesmo sabendo que estou exagerando, um pouco, o horizonte a minha frente não parece ser dos mais animadores mesmo: o mercado de trabalho (das ciências sociais). Para reestabelecer o sentido da minha vida, nada melhor que uma boa teoria heterodoxa: os ensimentos (devidamente filtrados) do pós-estruturalismo. Considerar a inexistências das estruturas seria uma grande besteira pós-moderna, mas pensar nas possibilidades de transformações no interior de certas estruturas consolidadas - como a zilmodernidade capitalista - é muito pertinente. A foto escolhida não foi por acaso, é de uma cena do excelente filme alemão Edukators, este, bem ao modo pós-estruturalista, narra as ações diretas de três jovens que sabotam mansões de ricos empresários alemães. Eles não mudam a sociedade, mas contestam a soberba e o sentimento de segurança da elite alemã. Fruem um gozo momentâneo de poder, prazer semelhante a quem compra uma mercadoria desnecessária sob a hipnose bombardeante de incontáveis anúncios comerciais. São sensações semelhantes pois compartilham a mesma estrutura da sociedade de consumo. Mas uma é autômata, pura posse fria do que a corrente social geral nos impõe, elementar reificação do mundo das merdorias. A outra é quente, transgressora, abre um novo universo de possibilidades para a vida, universo inalcansável para os simples consumistas.
Com o pós-estruturalismo podemos perceber que todo coração é uma célula revolucionária, capaz de reaquecer as relações pessoais, enriquecer o sentido da existência e abrir novas possibilidades, pessoais e sociais, para as nossas vidas, mesmo que momentaneamente só possamos concretizar as do primeiro tipo.

Por tudo isso, não contesto a presença de sacrifícios em nosso cotidiano, sacrifícios são necessários, não se pode fazer tudo. Saber escolher é o segredo da vida. Mas como jovem de meu tempo, e dado a existencialismos perniciosos, ando parando para pensar no sentido dos sacrifícios que tenho feito no cotidiano. Ainda não encontrei uma solução para meus questionamentos, mas acho que seria uma ilusão pensar que só ir mais a praia - será isso possível? - me deixaria mais resolvido, mas provavelmente ficaria mais feliz... ;=)
(PS: Bem que nossa elite política está merecendo uma ação direta a la Edukators.
PS2:Tenho que lembrar de apagar este post antes de começar a procurar emprego!)


2 comentários:

João disse...

Acho que ps2.: coroa todo o texto escrito antes. Edukators é uma saída sim, um sacode às vezes é bom. Mas o grande lance é a mudança de atitude de toda uma juventude, que deve ser pensada sim...
Além das obrigações mundanas.
Hoje as pessoas são vazias, amanhã quem sabe...cheias?

Anônimo disse...

Cara,não apenas a elite política mas toda esfera social(elitizada na acepcia de suas comodidades) precisaria de uma lição Edukators.
tullio