terça-feira, 5 de abril de 2011

Teoria Crítica da Molecagem e das ________Bo(r)bolet(r)as________


Manoel de Barros, esse poeta desvela, desverda os homens e nos fecunda como coco na rede, à beira do sol, brotando quentes na terra solta, refrescados tal os botos, que balançam à sombra do a mar...


"A mim parece que é mais do que nunca necessária a poesia. Para lembrar aos homens o valor das coisas desimportantes, das coisas gratuitas. Vendem-se hoje até vista para o mar, sapos com esquadrilhas de alumínio, luar com freio automático, estrelas em alta rotação, laminação de sabiás etc. Há que ter umas coisas gratuitas pra alimentar os loucos de água e de estandarte."

***

"O poeta precisa reaprender a errar a língua. Esse exercício poderá também nos devolver a inocência da fala. Se for para tirar gosto poético é bom perverter a linguagem. Temos de molecar os idiomas. O nosso paladar de ler anda com tédio. É preciso injetar nos verbos insanidades, para que eles transmitam aos nomes os seus delírios."

Manoel de Barros, em Eu sou o Rascunho de um sonho.




Borboletas



Borboletas me convidaram a elas.

O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.

Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens

e das coisas.

Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta,

Seria, com certeza, um mundo livre aos poemas.

Daquele ponto de vista:

Vi que as árvores são mais competentes em auroras

do que os homens.

Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças

do que pelos homens.

Vi que as águas têm mais qualidade para a paz

do que os homens.

Vi que andorinhas sabem mais das chuvas do que

os cientistas.

Poderia narrar muita coisa ainda que pude ver do

ponto de vista de uma borboleta.

Ali até o meu fascínio era azul.


Manuel de Barros, em Ensaios Fotográficos.





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