Um fenômeno estranho aconteceu essa semana na cidade de São Sebastião: as chuvas torrenciais escancararam a falta de planejamento urbano provocando o desabamento de casas populares nas favelas. Excluindo o sensacionalismo de alguns setores da mídia, que culpam os pobres pela trajédia, podemos ver um verdadeiro surto de solidariedade entre os moradores do Rio, doações chegaram em massa, em diversos pontos da cidade (e também em Niterói). Mas uma coisa me chamou a atenção, se a classe média colaborou com doações, à distância, ela pouco contribuiu in loco, ajudando os moradores das favelas afetadas a organizarem a distribuição das roupas, cobertores alimentos e produtos de higiene.
Eu fui um dos poucos que fez isso, e para minha supresa, quando cheguei no morro dos prazeres um menino de uns 10 anos, andando de bicicleta com a camisa do Vasco me cumprimentou, "E aê grinnngoooou!". Na hora eu ri! Meu amigo, este sim um gringo, dos EUA, ainda brincou com o vascaíno "não, esse aí não é não!"
Um dia antes, na sexta, um grupo de gringos tinha passado o dia na Igreja da Assembléia de Deus, local onde estão recebendo e distribuindo as doações, ajudando os moradores na organização. Sábado a tarde eu, meu amigo estadunidense, Raphi, e uma amiga nossa alemã, a Ingrid, - que conseguiu 1500 R$ em doações de seus conterrâneos - fomos lá ajudar. Fiquei pouco tempo, mas pude sentir uma receptividade muito boa entre os moradores e líderes comunitários, que parecem bem abertos as trocas positivas entre morro e asfalto.
Vi Charles, guerreiro, trabalhando o dia todo pela comunidade, Ana Paula, de beleza negra e firme, organizando a distribuição das doações e seu filho, o hiperativo Davi, que junto comigo confeccionava "kits higiene" e sorria toda vez que encontrava um mini shampoo ou um mini sabonete de hotéis, "E, maneiro, esse aqui vai de brinde!". A Ana Paula ainda me disse que eu podia botar o filho dela pra trabalhar, que ela adora ver ele fazendo coisa útil, mas nem precisava, o muleque por si só já fazia tudo, muito firmeza!
Há tempos que eu não fazia algo de importante para o coletivo, tô me dedicando excluisivamente ao mestrado e fazendo muito pouca militância. Foi muito bom ver que num momento de crise as barreiras sociais podem ser facilmente quebradas, até por gringos louros e branquelos, ou por um carioca da gema que ao primeiro olhar mais parece um gringo!
Sei que isso é pouco, que mais importante é criarmos uma cultura de planejamento urbano, que se supere o discurso da "remoção", pregado pela mídia sensacionalista e se aceite que a favela só vai terminar quando a pobreza extrema for exterminada do quadro social brasileiro.
Mas este "pouco" não deixa de ser muito relevante, e no caso do morro dos prazeres vi gringos quebrando as barreiras sociais do "apharteid carioca", porque não nós mesmos, os próprios cidadãos cariocas não podemos fazer isso? Confesso que aderi a iniciativa da gringada, eu nem tinha pensado nisso. Será que nós, cariocas de classe média, estamos refém de uma "alteridade radical" inventada pela mídia, que adentra as entranhas de nosso modo de sentir através do medo disceminado?
Um parabéns à gringada de Santa Teresa, que deu um show desconstruindo essa "alteridade radical"! Não precisamos ser reféns da "cultura do medo".
Eu fui um dos poucos que fez isso, e para minha supresa, quando cheguei no morro dos prazeres um menino de uns 10 anos, andando de bicicleta com a camisa do Vasco me cumprimentou, "E aê grinnngoooou!". Na hora eu ri! Meu amigo, este sim um gringo, dos EUA, ainda brincou com o vascaíno "não, esse aí não é não!"
Um dia antes, na sexta, um grupo de gringos tinha passado o dia na Igreja da Assembléia de Deus, local onde estão recebendo e distribuindo as doações, ajudando os moradores na organização. Sábado a tarde eu, meu amigo estadunidense, Raphi, e uma amiga nossa alemã, a Ingrid, - que conseguiu 1500 R$ em doações de seus conterrâneos - fomos lá ajudar. Fiquei pouco tempo, mas pude sentir uma receptividade muito boa entre os moradores e líderes comunitários, que parecem bem abertos as trocas positivas entre morro e asfalto.
Vi Charles, guerreiro, trabalhando o dia todo pela comunidade, Ana Paula, de beleza negra e firme, organizando a distribuição das doações e seu filho, o hiperativo Davi, que junto comigo confeccionava "kits higiene" e sorria toda vez que encontrava um mini shampoo ou um mini sabonete de hotéis, "E, maneiro, esse aqui vai de brinde!". A Ana Paula ainda me disse que eu podia botar o filho dela pra trabalhar, que ela adora ver ele fazendo coisa útil, mas nem precisava, o muleque por si só já fazia tudo, muito firmeza!
Há tempos que eu não fazia algo de importante para o coletivo, tô me dedicando excluisivamente ao mestrado e fazendo muito pouca militância. Foi muito bom ver que num momento de crise as barreiras sociais podem ser facilmente quebradas, até por gringos louros e branquelos, ou por um carioca da gema que ao primeiro olhar mais parece um gringo!
Sei que isso é pouco, que mais importante é criarmos uma cultura de planejamento urbano, que se supere o discurso da "remoção", pregado pela mídia sensacionalista e se aceite que a favela só vai terminar quando a pobreza extrema for exterminada do quadro social brasileiro.
Mas este "pouco" não deixa de ser muito relevante, e no caso do morro dos prazeres vi gringos quebrando as barreiras sociais do "apharteid carioca", porque não nós mesmos, os próprios cidadãos cariocas não podemos fazer isso? Confesso que aderi a iniciativa da gringada, eu nem tinha pensado nisso. Será que nós, cariocas de classe média, estamos refém de uma "alteridade radical" inventada pela mídia, que adentra as entranhas de nosso modo de sentir através do medo disceminado?
Um parabéns à gringada de Santa Teresa, que deu um show desconstruindo essa "alteridade radical"! Não precisamos ser reféns da "cultura do medo".
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Um link sobre a organização dos moradores do Morro dos Prazeres:
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